12ºD

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Tarefas na ausência da professora



Sociologia 12º C e 12º D
10 de Maio -3ª feira-  8 e 15 ás 9 e 45 (12ºC) e 10.05 ás 11 e 35 (12ºD)
12 de Maio – 5ª feira -  10.05 ás 11 e 35 (12ºD) e 11.45 ás 13 e 15- (12º C)


Classes e Estratos sociais

Optou-se por desenvolver esta parte no Arquivo, porque segundo o programa, deverá apresentar-se apenas a definição de classe social de João Ferreira de Almeida (organizador), sem referências ao contexto histórico.  
Conceitos relacionados: reprodução social, mobilidade social ascendente,  mobilidade social descendente, capital cultural
Ver estes conceitos no post Reprodução e mudança social

Estratos sociais
Pelo que se escreveu cima, o conceito de classes sociais confunde-se com o de estratos sociais, hierarquicamente sobrepostos, desde os inferiores aos superiores, reflectindo diferentes possibilidades de acesso aos bens em função do nível de rendimento. A sua representação gráfica resulta numa pirâmide, porque os indivíduos com maiores possibilidades de acesso aos bens são em menor número. 
Em Portugal são utilizadas as designações classe/estrato A, B. C, D e  E para evitar os termos alta, média-alta, média, média-baixa, baixa ou outros com significado discutível. Porém, estamos num domínio onde é corrente inventaram-se outros como fez estaprofessora brasileira
O bem-estar varia inversamente com o rendimento, como sublinham os economistas:
Em Sociologia observamos que os diferentes estratos sociais apresentam especificidades culturais que identificam as várias camadas sociais nos seus géneros de vida. Os sociólogos apontam outros critérios de estratificaçãoPoderemos distinguir os diversos estratos sociais, pela riqueza do vocabulário, pelas profissões desempenhadas, pela maneira de vestir, na ocupação dos tempos livres, pela localização e decoração da habitação, pelos tipo de conduta quando recebem ou se dirigem a alguém, pelos valores sociais objectivados pelo seu empenhamento no trabalho, na sociedade e na educação dos filhos.   
As desigualdades sociais gritantes são um dos aspectos mais revoltantes da sociedade capitalista, no entanto esta, graças à Escola ainda permite uma mobilidade social superior que os sistemas de organização social que o precederam: o esclavagismo e ofeudalismo








Classes sociais
As classes sociais não designam somente a estrutura funcional e económica da economia e da sociedade capitalista industrial, elas definem também os seres de classe, as identidades colectivas e individuais, as culturas e as comunidades” (Dubet, 2003:73). As classes são actores colectivos. A consciência de classe não pode reduzir-se só à consciência de identidade, porque implica também uma oposição, da classe a um adversário, definido por um repertório de classes. Elas supõem uma consciência da totalidade. As classes são “vontades”, disse Aron, elas são o coração dos movimentos sociais (ibidem). Uma boa parte da sociologia dos anos sessenta e setenta foi consagrada à suposta inevitabilidade histórica do colapso do sistema capitalista.  Esta  tarefa  arriscou-se frequentemente a não ser mais que uma ideologia quando a relação entre as categorias da experiência social e as da análise parecia demasiado distendida para ser credível (ibidem).

“Nas sociedades industriais, a classe social é um objecto total, explicativo e explicando, que se faz explicar e que se explica fazendo-se explicar. É causa e efeito” (ibidem).

A Sociologia utilizou trivialmente a classe social como a variável independente que mais fortemente predizia as condutas dos actores. Em Sociologia da Educação a relação entre o insucesso escolar e as classes populares será a mais célebre produção do determinismo, vitorioso nos anos dourados. Acompanhando a estabilidade do clima económico,  assistiu-se à generalização das classes no discurso sociológico, em simultâneo com o desenvolvimento dos sistemas nacionais de estatística,  porque a objectivação das classes sociais acaba por resultar da codificação das categorias sócio-profissionais. 

“A noção de classe perdeu parte da sua actualidade, em resultado das mutações sociais profundas no sistema de produção. No domínio das identidades, a cultura de massas corroeu as culturas de classe. Nas acções colectivas, os movimentos sociais não são hoje redutíveis aos movimentos de classes” (ibidem).

A realidade é hoje mais complexa, mais ambígua, mais porosa, mais plural. Os modos de identificação subjectiva encontram-se baralhados e a classe social já não é um indicador eficaz das atitudes e dos comportamentos. O género, a idade, o diploma, o estatuto do emprego, o percurso pessoal, a origem étnica, o bairro de residência permitem antecipar as disposições dos actores de maneira mais precisa e mais eficaz que a pertença de classe.

Apesar dos limites impostos à análise das classes sociais pela recomposição das sociedades, esta análise ainda se mostra pertinente em numerosos casos. Por exemplo, “em 2001, a probabilidade de um filho de empresários, dirigentes e profissionais liberais ser estudante universitário era “apenas” 7 vezes maior do que no caso de um filho de operários, enquanto em 1981 essa probabilidade era 35 vezes superior” (Machado, 2003:62). A análise permitiu observar que as desigualdades de acesso ao ensino superior se reduziram, coerentemente com a massificação que então se verificou (hoje se verifica?) neste nível de ensino. Simultaneamente, as transformações na estrutura social exigem a redefinição dos conceitos.

João Ferreira de Almeida, António Firmino Costa e Fernando Luís Machado têm  vindo a desenvolver uma tipologia de classes que designaram ACM[1]. O seu principal objectivo é observar a evolução da origem social dos estudantes universitários em Portugal. Propõem-na como “uma tipologia a testar, porque não faz sentido considerar uma tipologia de classes, por mais fundada que seja, nem como única nem como definitiva. As dimensões retidas dependem, em parte, do objecto de estudo; a elaboração e a aplicação empírica originam reconceptualizações; a realidade social é movente, impondo reajustamentos e reformulações” (Almeida et al, 1988:15).

“Do ponto de vista analítico, as classes sociais apresentam um paradoxo. São simultaneamente indispensáveis e improváveis. A utilidade das classes sociais está na sua capacidade de resistência à dissolução da ideia de sociedade e de estrutura social, indispensáveis à explicação dos fenómenos sociais. Sem estas imagens, apenas restaria uma justaposição de mercados colocando em actividade puros átomos individuais, uma simples estratificação ou justaposição de comunidades culturais” (Dubet, 2003:78). Por exemplo, os maus alunos sentem-se mais responsáveis pelas suas classificações que por qualquer injustiça social (?), mas à  Sociologia da Avaliação compete a compreensão do sistema de avaliação no contexto dos mecanismos de reprodução escolar, igualmente mecanismos de dominação e violência simbólica. Portanto, o conceito de classe social permanece útil quando se procuram delimitar os modos de dominação social e explicar a experiência dos actores (ibidem).  .

Uma questão controversa consiste na atribuição de classe social aos estudantes. “Uma das dificuldades específicas resulta de no caso dos jovens ser virtualmente bem mais significativo e caracterizador, do ponto de vista das classes, o respectivo trajecto futuroque o segmento que para trás deixaram” (Almeida et al, 1988:13). Esta observação não fará apenas sentido relativamente aos jovens universitários, uma vez que tem crescente importância a parcela dos alunos que ingressam no ensino superior, relativamente à que fica com o 12º ano de escolaridade. Portanto, também no 12º ano o futuro prospectivado adquire maior relevância que o passado, afinal ainda tão curto aos 17 anos.

Para ultrapassar a controvérsia acima apresentada, os autores distinguiram pertença de classe, de origem de classe, elaborando novos conceitos, como o de trajectória social, incluindo os segmentos passados, presente e futuro virtual. Partiram de uma “concepção multidimensional da estrutura de classes enquanto sistema de diferenças sociais presentes na estruturação de uma pluralidade de práticas socialmente relevantes” (ibidem). Esta flexibilização do conceito fez-se pela incorporação de três dimensões predominantes (volume das diversas formas de capital - económico, cultural e social -, respectiva estrutura e trajectória social) com dimensões secundárias de relevância variável (idade, género e localização geográfica). 

Quanto aos indicadores socioeducacionais, “devido à forte institucionalização estatal dos sistemas de graus de ensino, têm formas de operacionalização simples, embora constituam eles próprios sistemas de classificações sociais, muito menos transparentes do que possa parecer à primeira vista” (Machado, 2003:49), aspecto para cuja clarificação contribui a Sociologia da Avaliação.

Quanto aos indicadores socioprofissionais crê-se que a sua precisão seria maior se se tivessem tido em consideração as matrizes de construção da classe social adoptadas pela tipologia ACM. Conjugando os grandes grupos da CNP com a situação profissional (patrão, trabalhador por conta própria ou  trabalhador por conta de outrem) esta tipologia apresenta um menor número de categorias, paradoxalmente com maior relevância do ponto de vista das classes sociais.
 fonte : https://sites.google.com/site/sociologiaemaccao/8-desigualdades-e-identidades-sociais/classes-e-estratos-sociais




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Mobilidade social

A educação é a chave para contrariar as condições socioeconómicas de nascença. Principalmente num país, como Portugal, onde a estagnação social é muito baixa.
E graças ao trabalho de Thomas Piketty, muito se tem falado sobre a desigualdade na distribuição do rendimento. Menos se tem falado sobre o problema da MOBILIDADE SOCIAL. A MOBILIDADE SOCIAL não é o mesmo que a igualdade na distribuição do rendimento ou da riqueza. Embora exista alguma correlação (maior desigualdade está em média associada a menor mobilidade), a correlação está longe de ser perfeita

Um livro recente trata do problema da mobilidade segundo uma perspetiva histórica: trata-se de “The Son Also Rises”, da autoria do historiador económico Gregory Clark. O livro de Clark é para a MOBILIDADE SOCIAL, o que o de Piketty é para a desigualdade. Tal como no caso do “Capital no Século XXI”, creio que estamos perante um excelente trabalho de recolha de dados, seguido por uma interpretação altamente discutível dos mesmos.
Além do trocadilho do título (um jogo de palavras com o livro de Hemingway), o trabalho de Clark propõe uma metodologia que não foi até agora aplicada da forma sistemática com que este historiador e os seus colegas o fizeram. A ideia é seguir a população através dos nomes de família. Este tipo de metodologia tem, como é evidente, as suas limitações: por exemplo, há pessoas que mudam de nome; há nomes que são tão comuns que se tornam pouco úteis como medida de sucesso; etc. No entanto, como é costume dizer nos meios académicos, alguns dados são melhores do que nenhuns dados.
O facto principal documentado por Clark é fácil de enunciar: em todo o mundo e em todos os séculos, o nível de MOBILIDADE SOCIAL é muito baixo. Talvez não seja novidade que a MOBILIDADE SOCIAL em Portugal é baixa (aliás, baixíssima). Para quem tem seguido os escritos de Paul Krugman & Ca., talvez não seja novidade que a MOBILIDADE SOCIAL nos Estados Unidos é baixa. O que talvez seja mais surpreendente é que o mesmo se verifica em países como a China e a Suécia. Onde quer que tenha nascido e quando quer que tenha nascido, o destino de uma pessoa é largamente determinando pela posição económica e social dos seus bisavós e trisavós.
Porquê? A forma mais comum de colocar esta pergunta é distinguir entre os efeitos dos genes e os efeitos das condições ambientais. As características genéticas de um recém-nascido estão altamente correlacionadas com as dos progenitores (“tem os olhos do pai”, “tem a inteligência da mãe”, etc). No entanto, mesmo que a correlação entre pais e filhos seja 60% (um número generoso, com base nos estudos que têm sido feitos), ao fim de três gerações temos uma correlação muito próxima de zero. Ora, os dados de Clark sugerem que a correlação se mantém alta mesmo depois de quatro ou cinco gerações.
Claramente, estamos perante um caso em que as condições ambientais assumem um papel preponderante. Para um teórico marxista, o diagnóstico é simples e chama-se luta de classes: uma pessoa não escolhe a classe em que nasce tal como não escolhe o pai que a gerou. Para um político marxista, a solução não é tão simples, mas passa necessariamente por um Estado grande e interveniente que contrarie a dinâmica natural do sistema capitalista.
A evidência empírica, no entanto, não joga muito bem com esta perspetiva. Por exemplo, segundo medidas da OCDE, o grupo dos países com menor MOBILIDADE SOCIAL (hoje em dia) incluem Portugal, França, Itália, Reino Unido e Estados Unidos; enquanto que os países com maior mobilidade incluem a Suécia, a Noruega, a Austrália e o Canadá. É difícil ajustar o modelo marxista a todas estas observações.
Pessoalmente, creio que para compreender o fenómeno da estagnação social há que resolver o puzzle da educação. Além de ganhar a lotaria e de outras histórias da Cinderela, é do acordo geral que a educação é (hoje em dia) a principal via de MOBILIDADE SOCIAL. Então por que motivo é que, depois de décadas de ensino público tendencialmente gratuito e tendencialmente universal, depois de milhões e milhões de investimento público em educação, os filhos dos que têm menos educação continuam a obter piores resultados no sistema?
É bom ouvir o que James Heckman (Nobel da Economia) tem a dizer sobre esta questão (tradução livre de um dos muitos artigos sobre o tema): As diferenças provêm de diferenças em habilidades e são diferenças que aparecem já mesmo antes de chegar à escola. As famílias são os principais ‘produtores’ dessas habilidades. As escolas têm muito pouco efeito na redução das desigualdades que já estão presentes nas crianças ao entrar na escola.
A solução para o problema está longe de ser atingida, mas acreditando nos estudos de Heckman, somos levados a crer que a solução do problema da MOBILIDADE SOCIAL passa por uma política de apoio à família, especialmente às famílias com crianças em idade pré-escolar. Tema para continuar.

Luís CabralProfessor da Universidade de Nova Iorque e da AESE
In Expresso – Economia- 7-2-2015 "
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