12ºD

12ºD

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Sociologia em Portugal
Antes da revolução de 25 de Abril de 1974,surgem as Ciências sociais como um instrumento importante do desenvolvimento da sociedade portuguesa. Surgem também novas disciplinas, como a Sociologia, Antropologia Social, Ciências da Educação, etc., sendo criadas diversas licenciaturas e pós-graduações espalhados por todo o território nacional. Aparecem centros de pesquisa, normalmente ligados às universidades, constituem-se associações científicas, aparecem publicações de novas revistas especializadas sobre o assunto, organizam-se encontros e congressos, ou seja, numa palavra, consolidam-se as novas ciências sociais, onde a Sociologia irá ter um papel fundamental na divulgação de novas ideias.
Em Portugal e até meados do século XX, foram duas as influências verdadeiramente marcantes na sociedade portuguesa, a do positivismo e a do reformismo playsiano.
Quanto à primeira, Teófilo Braga foi o seu grande divulgador, lutando contra uma filosofia idealista muito forte e hostil, nomeadamente pelas elites intelectuais, culturalmente retrógradas e politicamente conservadoras. Contudo o papel central da sociologia que era a reforma da sociedade portuguesa e a condução para um mundo civilizado e de progresso nunca foi alcançado, pela falta de produção científica consistente e empiricamente fundamentado.
Tudo começa em 1908, quando a Sociedade de Geografia de Lisboa, convida J. Durieu, secretário da Societé Internationale de Science Sociale, fundada em 1904  a fazer um ciclo de conferências sobre as teorias da reforma social e o método das monografias usado pela sociedade nos seus estudos. No ano seguinte, um outro sociólogo, também discípulo da mesma escola faz um estudo sobre a sociedade portuguesa, onde são assinalados factores de desorganização social profundos e continuados e se conclui que as classes sociais e as estruturas das famílias portuguesas, não favoreciam a emergência dos princípios por que se deviam reger as sociedades modernas, a saber: valores pessoais sobre a condição social, o primado do trabalho sobre a política e a abertura ao exterior. São dados assim os primeiros passos para o sucesso da sociologia em Portugal e em 1918 é criada no Porto a Sociedade Portuguesa de Ciência Social, a primeira associação de cientistas sociais formada no país.
O que é facto é que o reformismo social favorecia o entendimento entre os diferentes grupos sociais e defendia a correcção coerciva desde que necessária para preservar o homem da tentação. O reformismo social apoiava-se ou inspirava-se na doutrina oficial do catolicismo e aproximava-se das soluções integristas. Não admira, portanto que mais tarde Salazar convide um outro representante da Escola de Le Play, Paul Deschamps, para replicar o estudo feito anteriormente sobre a sociedade portuguesa, esperando deste modo fundamentar os estudos credíveis as opções políticas que tencionava desenvolver. No entanto os resultados não agradaram ao regime perante o reconhecimento de Deschamps de que “a concepção de sociedade ditada pelo Estado Novo não deixava o mínimo lugar a uma disciplina como a sociologia, mesmo que esta fosse discreta nas menores alusões críticas”.
A ditadura desconfiava dos sociólogos e das ciências sociais e por isso procurou sempre desvalorizar qualquer teorização do social e desta forma impedir o seu desenvolvimento institucional: não permitiu que a sociologia entrasse nas universidades, não permitiu organizações de índole social, nem a publicação ou difusão de obras relacionadas com o pensamento sociológico. Isto levou a que durante décadas, quem se aventurou por este caminho tivesse que o fazer de uma forma clandestina. O enfraquecimento do regime e a acumulação das contradições sociais dentro da própria sociedade portuguesa, levantaram enormes problemas entre a população e não havia como escondê-los. Isto levou a que a década de 60 devido a uma conjugação de factores, desde a tomada de consciência, por camadas mais amplas, ao atraso da sociedade portuguesa quando comparada com outras sociedades da Europa e o descrédito do modelo corporativista prometido como alternativa, transformaram-se rapidamente em preocupações de todos os cidadãos. Aumentou a procura de conhecimentos especializados na área social e surgiram instituições de planeamento e intervenção técnica, gabinetes e organismos de estudos sociais, cobrindo temáticas do âmbito colonial ou relacionadas com com o serviço social, o desenvolvimento comunitário, a formação profissional e políticas de desenvolvimento.
Em 1963, surgiu cursos com disciplinas de sociologia e, mesmo uma licenciatura em Sociologia no Instituto de Estudos Superiores de Évora, mas sem efeitos notórios para a institucionalização da Sociologia, dadas as preocupações práticas de formação de profissionais e preocupações ético-religiosas.
Um verdadeiro marco na história da sociologia em Portugal, acontece em 1963 com o surgimento da revista Análise Social, projecto de um grupo de investigadores, quase todos identificados com o progressismo católico, movidos pelas ideias do desenvolvimento económico baseado no progresso e na justiça social. 
Dava-se então início à terceira fase do processo de institucionalização da Sociologia em Portugal. Isto acontece, quer através da criação de novas licenciaturas noutras universidades, quer através da criação de verdadeiros centros de investigação sociológica, bem como revistas e publicações periódicas e ainda através da criação de organismos científicos e profissionais cujos congressos passaram a constituir eventos marcantes da vida colectiva dos sociólogos portugueses.
Importa salientar que o processo de institucionalização da sociologia em Portugal, vai coincidir com um período, em que a própria sociologia, enquanto disciplina institucionalizada, atravessava uma fase de reorientação e recuperação de um  período muito crítico, em que toda a produção científica-social, tinha sido posta em causa em toda a Europa. A crise de que se está a falar tinha a ver, sobretudo, com o processo de desenvolvimento da própria sociologia.
De uma forma sintética e identificando as diferentes variantes da produção sociológica em Portugal e a melhor prática dessa produção nos últimos anos, eu diria que os benefícios que a institucionalização tardia da sociologia em Portugal teve as seguintes vantagens:
ü  A abertura interdisciplinar do trabalho sociológico,
ü  A tendência para a auto reflexividade epistemológica e metodológica,
ü  O ajustamento entre dimensão teórica e dimensão empírica do social,
ü  Pluralismo teórico e metodológico, aliado à rejeição de orientações paradigmáticas exclusivistas,
ü  A combinação de metodologias quantitativas e qualitativas,
ü  A articulação de diferentes níveis de análise, macro, micro, global e local,
ü  O interesse por estudos inovadores e de “fronteira”,
ü  A combinação equilibrada entre a investigação fundamental, a investigação aplicada e a intervenção profissional.
Todos estes traços não significam outra coisa senão reconhecer que, à partida, as condições se apresentavam favoráveis ao desenvolvimento de uma sociologia inovadora e de qualidade, e não envolve qualquer juízo de valor em relação ao modo como essas condições foram aproveitadas.
Importa salientar que os contextos mutáveis em que se desenvolveu o trabalho sociológico, se encarregou de reduzir, nuns casos, e aumentar noutros, as vantagens comparativas de que os sociólogos portugueses gozavam à partida.
Boaventura Sousa Santos, a propósito da década de 80, afirma que o contexto socio temporal, acabou por ser desastroso para a sociologia, por esta não ser capaz de acompanhar as rápidas transformações que estavam a ocorrer, nem evitar que o trabalho sociológico se orientasse, paradoxalmente, noutras direcções. Isto resultou, que devido a certas conjunturas da história portuguesa recente, se abrandasse a vigilância crítica em relação ao poder instituído:
 “A tradição sociológica portuguesa tem alguma especificidade. Dominou durante muito tempo uma postura crítica. Em dois momentos, porém, muito diferentes entre si, o compromisso orgânico pretendeu tomar a dianteira: o primeiro foi durante a crise revolucionária do 25 de Abril, o segundo, nos últimos quatro anos, em resultado de uma certa modernização e também de uma certa governamentalização das práticas sociais e institucionais, ambas impulsionadas pela integração de Portugal na CEE”. E conclui: “Os desafios que nos são colocados exigem de nós que saiamos deste pêndulo. Nem guiar nem servir. Em vez de distância crítica, proximidade crítica. Em vez de compromisso orgânico, o envolvimento livre. Uma objectividade feita de independência, e não de neutralidade”.
Finalmente e voltando ainda ao tardio surgimento da sociologia em Portugal e a sua relativa marginalidade em face aos principais centros de produção do conhecimento sociológico, importa realçar a posição defendida em 1988, pelo então Presidente da Associação Portuguesa de Sociologia, João Ferreira de Almeida: “Sou dos que não consideram forçosamente negativos todos os efeitos da nossa relativa marginalidade (…). É certo que a periferia tende a ser candidata a colonização e, no caso que agora nos interessa, através da importação acrítica de modelos nem sempre adequados ao trabalho local; mas a situação comporta, também, virtualidades que interessa ter em conta e aproveitar. A sociologia que se faz em Portugal pode, com efeito, recolher influxos variados que activamente procure e seleccione, quer os provenientes dos espaços já referidos, quer os que têm origem noutras fontes e noutras regiões. As grandes áreas linguísticas e culturais padecem geralmente de algum isolamento, apesar e por causa da sua dimensão e da sua preponderância. A nossa pequenez, em contrapartida, obriga-nos à extroversão; todo o problema reside em aproveitar sem exclusões apriorísticas os contributos exteriores avaliados como mais positivos”.

Trabalho realizado por:
Fábio Gonçalves Nº18 12ºD

Maria Montrond Nº25 12ºD                 

Sem comentários:

Enviar um comentário